25 de
setembro de 2017, segunda-feira: Foi um dia bastante comum. Tomei meu desjejum,
fui trabalhar, trabalhei, sai do trabalho, fui na academia à noite... Eu não
tenho costume de ir treinar minha bunda no período noturno, erguer os pesos
para tonificar minhas pernas e braços gostosos numa noite. Prefiro ir cedo,
quando é mais calmo e todos os equipamentos estão sempre disponíveis para eu
usá-los ao meu bel prazer – contudo, de acordo com a ficha que a instrutora me
fez. Acontece que na noite anterior, em pleno domingo, meus amigos me chamaram
de última hora para tomar um porre daqueles e eu me encontrei indisposto para
sair da cama de manhã. Precisei dormir bastante, porque o trabalho a tarde
seria puxado.
Tudo bem, até aí estava tudo
beleza e joia. Bem supimpa, um dia bastante normal de ressaca... Só que se eu
não tivesse decidido ir à academia no período noturno, num belo efeito borboleta,
eu não teria encontrado ela...
Na verdade eu a notei quando fui
treinar meus peitorais deliciosos, e ela se estabanou e acabou derrubando
algumas anilhas pesadas no chão. Foi engraçado, eu dei risada, ela deu risada,
todo mundo parou para ver a patetada. Os homens mais marombados foram cheios de
pompa ajudá-la e prestar o cavalheirismo. De repente toda a testosterona do
lugar se concentrou em uma única singularidade em torno da beldade... Mas foi eu
quem a avistou primeiro, não eles...
Enfim, foi um dia normal com uma
noite anômala.
Eu não sei o nome dela. Sou
muito tímido e não criei coragem para perguntar.
Doravante, me referirei a “moça”
quando eu quiser chamá-la ao meu relato.
Isso não é um diário, isso é uma
pesquisa com uma finalidade bem definida. Decidi monitorar meus passos e ir a
fundo nesse caso, pois quero descobrir quem essa mulher é.
“Referirei” é uma palavra tão
feia...
26 de
setembro de 2017, terça-feira: Sonhei com a moça. Foi um sonho leve, nenhum
daqueles que me faz eu me apaixonar perdidamente na outra manhã. Até que
acordei cedo – e sem ressaca –, todavia optei por dormir um pouco mais e deixar
para ir à academia de noite. Eu achei a moça muito interessante, e para ela ter
feito sua breve e intensa aparição em meu ambiente onírico, isso já diz muita
coisa sobre ela.
A moça não foi à academia.
Risquei das possibilidades a terça-feira de noite, pois todos seguem uma
rotina, pois o ser humano é assim, pois quem não toma as rédeas da própria vida
nesse mar infindável de informações que é a sociedade logo perde o controle de
si mesmo.
O trabalho foi normal à tarde.
Bem de boa. E o meu café foi banana amassada com canela e farinha de linhaça.
Ok.
27 de
setembro de 2017, quarta-feira: Não sonhei com ela, eu acho. Na verdade,
enquanto eu comia minha banana amassada com canela e farinha de coco, eu
analisava os dados que coletei até então do modo de vida da moça, e acabei por
esquecer o que eu sonhei. Enfim, o sonho é irrelevante...
Matutei, mastiguei e levantei a
hipótese de que, possivelmente, provavelmente, a moça alternava suas noites de
academia para não cansar muito seus belos músculos – porque ela é bem baixinha
e parece frágil. Deste modo, decidi novamente ir à academia de noite, me
torturar naquela trupe de bombados – realmente odiei treinar com o lugar cheio,
mas estava disposto a fazer esse sacrifício.
Novamente, nada dela. Minha
hipótese foi pro espaço.
Ah, e tive alguns pequenos
impasses no trabalho, mas nada assustador.
Aliás, eu trabalho em um
escritório de contabilidade resolvendo os pepinos que o meu chefe me arranja...
E isso é irrelevante.
28 de
setembro de 2017, quinta-feira: Nada da moça à noite. Meu raciocínio estava
falho. Talvez ela não vá todos os dias à noite... Quem sabe ela vá de manhã,
também, nos dias que não vou.
Tudo bem, comi banana amassada
com farofa – sim, farofa de por em carne, porque eu me estabanei.
Toda vez que eu faço uma
trapalhada há um gatilho na minha mente que faz com que eu lembre daquela moça
linda que eu só vi uma vez e que mesmo assim já deixara uma marca em minha vida
insignificante... Linda. Demais.
Dia normal no trabalho. Aliás,
tive o meu melhor desempenho.
29 de
setembro de 2017, sexta-feira: Nada da moça à noite. Droga.
02 de
outubro de 2017, segunda-feira: Novamente de manhã encontrei aquela linda. Isso
provava que ela seguia uma rotina, só ainda não a identifiquei. Ela passou
algumas vezes perto de mim e percebi que ela trocou uns olhares discretos comigo.
Comi banana no café, mas meu estômago estava roncando. Fiquei sem energias e
minhas mãos tremiam além do normal no supino, possivelmente por causa da
alimentação insuficiente de antes, provavelmente por causa dos olhos castanhos
claros mesmerizantes da sereia bípede. Meu trabalho se misturou com o encanto
dela e nada mais tinha importância a não ser seus lábios nos meus.
Ela foi embora e eu parei meus
exercícios de prontidão na metade do total das séries predestinadas ao
exercício de ombro que marcava exatos três quartos da ficha destinada àquele dia. Sai da academia e fui
embora... Ela ia no mesmo sentido que eu deveria ir, a pé também, então eu meio
que a segui, querendo ou não. Obviamente que eu queria segui-la, não por mal,
mas para poder saber quem ela era. Só que ela estava tão longe que nem percebeu
que eu estava atrás. Virou em uma esquina qualquer e apertei o passo, sem
parecer um maluco, mas sem perder a oportunidade de ver até que ponto ela
continuaria naquela nova direção. Quando alcancei a esquina que ela virou, não
mais a vi... Isto é uma informação valiosa, pois me afirma que depois daquela
esquerda a casa dela não fica tão distante da esquina.
Bom, bom, muito bom.
03 de
outubro de 2017, terça-feira: Nem perdi meu tempo indo à noite na academia,
pois sabia que ela não iria, pois tem cara e jeito de ser uma mulher metódica.
Portanto, fui de manhã, período em que talvez ela pudesse ir, pois quando eu
seguia a rotina frequentava o lugar nas segundas, quartas e quinta-feiras cedo.
Eu me enrolei bastante nos
exercícios e levei o dobro do tempo necessário para fazer todos, na esperança
de que ela de repente aparecesse lá. Fiquei vigiando a porta de entrada toda
hora, e toda hora que alguém entrava meu coração dava um pulo...
Mas eu não a encontrei hoje de
manhã.
O trabalho foi frustrante e
esqueci de tomar meu desjejum. Comi um mega sanduíche super nada saudável assim
que coloquei o pé direito pra fora do escritório chato e opressor.
04 a 06 de
outubro de 2017: Na quarta-feira eu fui no meu horário convencional, cedo,
porque eu já sabia que não encontraria a moça de noite neste dia da semana. De
qualquer modo, me assegurei de que ela seguia mesmo uma rotina e passei a pé,
como se estivesse de passagem querendo nada com nada, na frente da academia,
porém nenhum sinal dos seus longos cabelos ombré lá dentro.
Na quinta-feira também fui cedo
e dei uma passada despretensiosa à noite. Na sexta-feira fui treinar no período
de manhã, bem de boa, e não a encontrei de novo. À noite, mesmo sabendo que ela
não iria, decidi treinar de novo (duas vezes no mesmo dia), só na expectativa
de que seu perfume suado passasse por aquele recinto como um anjo enviado por
Deus...
Bosta nenhuma. Nada dela e quase
xinguei meu chefe no trabalho. Comi uma porcaria de manhã e sai da dieta pela
tangente brutalmente. Deve ter sido um bolo recheado que nem lembro de ter
comprado. Tanto faz.
07 de
outubro de 2017, sábado: Claro! Acordei no meio da noite para ir ao banheiro,
às quatro em ponto da madrugada, como meu relógio biológico sempre me obriga, e
tive uma epifania: Talvez a moça fosse hoje de manhã, visto que a academia está
aberta. Fiquei entusiasmado com minha ideia genial e coloquei o despertador
para as sete horas em ponto, acordei e cheguei até antes dos instrutores no
local, dei bom dia para eles e fui lá treinar minhas coxas e nádegas torneadas.
Cadê a moça?!
08 de
outubro de 2017, domingo: Eu já sei mais ou menos onde ela mora, então decidi,
depois do almoço, ir perguntar aos vizinhos se eles não a conheciam, para eu
saber seu nome. Peguei o carro com a banana de sobremesa na mão e fui às redondezas de sumiço da minha diva.
Puxando o freio de mão pensei no que falar aos vizinhos...
Não consegui pensar em
características que a descreviam! Embora eu tivesse a visto pouco – exatas duas
vezes –, eu não consegui pensar em detalhes estéticos que a diferenciassem das
outras. A moça não possuía nada de relevante, e talvez fosse por isso que fosse
tão atraente. Era um semblante bastante genérico – genérico até demais –, de
modo que desisti da ideia do interrogatório à vizinhança e descartei metade da
banana na rua, por pura frustração.
09 de
outubro de 2017, segunda-feira: Acordei super empolgado, comi duas bananas –
uma amassada com canela e farinha de alguma coisa e outra não –, e fui
trabalhar muito feliz. Foi o meu melhor desempenho desde meu último melhor
desempenho! Cumprimentei todo mundo, tratei meu patrão com respeito que ele
merecia, tomei um cafezinho com os colegas e ri demais nos intervalos! Hoje eu
encontraria novamente minha linda na academia, à noite, em meio à insuportável
baderna de monstros inchando fibras musculares e metal beijando metal ou
porcelana.
E lá ela estava, minha claraboia
numa caverna triste e desolada cheia de morcegos que cagam em minha cabeça. Não
usa nenhum tipo de anel nos dedos anelares, então talvez não seja comprometida.
Entretanto, possa optar por não usar o anel na academia pelos motivos óbvios de
não ser muito prático e machucar os dedinhos pegar numa barra com peso pesado.
Linda, bela, estonteante! Sorri para ela, mas acho que ela não viu. Sorri outra
vez, mas não viu novamente. Troquei alguns olhares, mas ela parece muito
tímida. Fui para casa contente e dormi como um bebê.
10 de
outubro de 2017, terça-feira: Tive um sonho muito apaixonante com a moça e
acordei inflamado em desejo. Foi um dia especial o de hoje, pois, pela graça do
destino, no caminho ao meu trabalho, encontrei a coisinha do meu coração
andando na calçada nas proximidades do shopping, toda arrumada e maquiada, em
torno de uma hora e meia da tarde. Deduzi que talvez ela trabalhasse lá a
tarde, e isso já foi uma outra pista bastante boa. Outro dado muito legal e
conveniente foi que ela não usava nenhum anel em suas mãos, confirmando que ela
não namora, nem é noiva, tampouco casada.
11 de
outubro de 2017, quarta-feira: Estacionei o carro e esperei ela passar perto do
shopping, no começo da tarde. Almocei mais rápido que o meu comum para poder
quebrar minha rotina e chegar um pouco antes naquele local, com o carro, para
coincidir com a rotina dela. Certeza de que ela trabalhava lá, certeza! Ninguém
se arruma tanto para ir ao shopping!
Mas ela não passou!
Meu trabalho foi um pouco abaixo
da média... Fiquei um pouco abalado com a quebra de expectativas...
12 a 13, 16
a 20 de outubro de 2017: Passei novamente, todo dia, no começo da tarde, em
torno das uma e meia da tarde, no bendito shopping, e não avistei ela nenhuma
vez. Estive errado, ela não trabalhava lá, nunca mais a vi. Ela não foi dia 16
pela parte da noite na academia, e meu final de semana e semana posterior
inteira foram um lixo. Eu me estressei muito no trabalho e avacalhei de vez com
minha dieta, tanto no desjejum, quanto no almoço e mais tarde no jantar. Droga!
21 e 22 de
outubro de 2017, final de semana dos infernos: Meus amigos me chamaram pra
beber, mas eu não estava no clima...
23 de
outubro de 2017, segunda-feira: Briguei feio com meu chefe e pedi demissão na
merda do meu emprego. Joguei uma casca de banana na frente dele quando ele
estava vindo me encher o saco, só para vê-lo escorregar, por pura maldade e
descontentamento com minha vida. Foi engraçado, mas eu não tive vontade de rir.
Piquei a mula e fui à noite na academia.
Lá ela estava! Troquei muitos
olhares com ela e me deleitei com sua beleza! Até esqueci de fazer um
exercício. Ela sorriu para mim! Ela gosta de mim! Tenho chances, isso aí!
Dormi que nem um anjo numa nuvem
fofa!
24-27 de
outubro de 2017: Decidi ir na parte da tarde à academia durante todo o restante
da semana, pois antes eu não podia porque trabalhava. Não encontrei ela nenhum
dia. Será que ela só ia uma vez por semana? Que desleixada, em.
30-31 de
outubro, 1, 2 e 3 de novembro: Fiquei plantado em frente à academia só comendo
barrinhas de cereais e tomando café na minha garrafinha térmica, dentro do
carro, para monitorar melhor a vida dela. A moça realmente só foi segunda-feira
à noite. Então esse é o dia! Na próxima semana vou fazer duas fichas de uma só
vez no período noturno para aumentar minhas chances de ver ela! Sou muito
inteligente e dedicado, ela vai me amar!
6 de
novembro: Segunda à noite, faço bastante exercício e quase morro de fadiga. Linda,
linda, muito linda. Adorei ela. Adoro ver ela. Adoro sofrer por ela. Por favor,
me ame! Eu tenho muita coisa a oferecer, eu te amo demais, moça! Converse
comigo, você parece ser interessante. Não tem nada de notável na aparência,
então deve compensar com um conteúdo massa por dentro! Tesão! Que bunda! Que
pernas! Ma-ra-vi-lho-sa, elixir dos deuses, pétala da primavera, pôr-do-sol em
Vênus, puta que pariu que corpo gostoso!
Terça à
sexta, sábado e domingo também: Fiquei em casa assistindo séries e pensando
como fazer a moça me notar. Tive várias ideias, vou pô-las em prática a partir
dessa nova semana que está florescendo. Eu vou conseguir conquistá-la! Seremos
muito felizes juntos e nossos filhos terão meus olhos azuis e a beleza mística
dela! Nossa, vai ser demais... Vou dormir e sonhar com meu amor, beijos pra
quem fica!
Segunda
noite: MERDA! Ela entrou na academia de
mãos dadas com um fortão! UM CARA FEIO E RIDÍCULO, SEM CONTEÚDO E
DESINTERESSANTE! Ela estava usando um anel! POR QUE ELA usa anel NA academia²??
Isso machca a mão!!! Por que!! E o pior de tudo, o homem é um daqueles primatas
que a ajudou a pegar a anilha no chão quando ela a derrubou lá no dia 25 de
setembro de 2017, eu sei que é esse dia porque esse dia marcou a minha vida e
eu tenho todos os detalhes guardados em minha memória fotográfica infalível meu
Deus o que eu faço agora???w Ela está COMPROMETIDA com esse VAGABUNDO!!! MAS ELA SORRIU PRA MIM NO DIA 23 DE OUTUBRO DE 2017!!!!.... EU VOU MATAR ELE!!! MATAR, MATAR MATAR MATAR MATAR!!! HAHAHAHAHAHA!! Não... EU VOU MATAR ELA!!! ISSO!! Meu coração
está em pedaços, quero chorar muito muito, MAS MUITO mesmo!!! :’(
Cedo, com
banana com casca na mão: eu podia ter
perguntado o nome dela no primeiro dia... eu sou um fracasooo.... vou me
matar... ninguem vai se importar com minha morte... cansei de bananas...
Dor, muita dor e vazio
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