domingo, 22 de outubro de 2017

Em busca da felicidade

25 de setembro de 2017, segunda-feira: Foi um dia bastante comum. Tomei meu desjejum, fui trabalhar, trabalhei, sai do trabalho, fui na academia à noite... Eu não tenho costume de ir treinar minha bunda no período noturno, erguer os pesos para tonificar minhas pernas e braços gostosos numa noite. Prefiro ir cedo, quando é mais calmo e todos os equipamentos estão sempre disponíveis para eu usá-los ao meu bel prazer – contudo, de acordo com a ficha que a instrutora me fez. Acontece que na noite anterior, em pleno domingo, meus amigos me chamaram de última hora para tomar um porre daqueles e eu me encontrei indisposto para sair da cama de manhã. Precisei dormir bastante, porque o trabalho a tarde seria puxado.
                Tudo bem, até aí estava tudo beleza e joia. Bem supimpa, um dia bastante normal de ressaca... Só que se eu não tivesse decidido ir à academia no período noturno, num belo efeito borboleta, eu não teria encontrado ela...
                Na verdade eu a notei quando fui treinar meus peitorais deliciosos, e ela se estabanou e acabou derrubando algumas anilhas pesadas no chão. Foi engraçado, eu dei risada, ela deu risada, todo mundo parou para ver a patetada. Os homens mais marombados foram cheios de pompa ajudá-la e prestar o cavalheirismo. De repente toda a testosterona do lugar se concentrou em uma única singularidade em torno da beldade... Mas foi eu quem a avistou primeiro, não eles...
                Enfim, foi um dia normal com uma noite anômala.
                Eu não sei o nome dela. Sou muito tímido e não criei coragem para perguntar.
                Doravante, me referirei a “moça” quando eu quiser chamá-la ao meu relato.
                Isso não é um diário, isso é uma pesquisa com uma finalidade bem definida. Decidi monitorar meus passos e ir a fundo nesse caso, pois quero descobrir quem essa mulher é.
                “Referirei” é uma palavra tão feia...

26 de setembro de 2017, terça-feira: Sonhei com a moça. Foi um sonho leve, nenhum daqueles que me faz eu me apaixonar perdidamente na outra manhã. Até que acordei cedo – e sem ressaca –, todavia optei por dormir um pouco mais e deixar para ir à academia de noite. Eu achei a moça muito interessante, e para ela ter feito sua breve e intensa aparição em meu ambiente onírico, isso já diz muita coisa sobre ela.
                A moça não foi à academia. Risquei das possibilidades a terça-feira de noite, pois todos seguem uma rotina, pois o ser humano é assim, pois quem não toma as rédeas da própria vida nesse mar infindável de informações que é a sociedade logo perde o controle de si mesmo.
                O trabalho foi normal à tarde. Bem de boa. E o meu café foi banana amassada com canela e farinha de linhaça. Ok.

27 de setembro de 2017, quarta-feira: Não sonhei com ela, eu acho. Na verdade, enquanto eu comia minha banana amassada com canela e farinha de coco, eu analisava os dados que coletei até então do modo de vida da moça, e acabei por esquecer o que eu sonhei. Enfim, o sonho é irrelevante...
                Matutei, mastiguei e levantei a hipótese de que, possivelmente, provavelmente, a moça alternava suas noites de academia para não cansar muito seus belos músculos – porque ela é bem baixinha e parece frágil. Deste modo, decidi novamente ir à academia de noite, me torturar naquela trupe de bombados – realmente odiei treinar com o lugar cheio, mas estava disposto a fazer esse sacrifício.
                Novamente, nada dela. Minha hipótese foi pro espaço.
                Ah, e tive alguns pequenos impasses no trabalho, mas nada assustador.
                Aliás, eu trabalho em um escritório de contabilidade resolvendo os pepinos que o meu chefe me arranja... E isso é irrelevante.

28 de setembro de 2017, quinta-feira: Nada da moça à noite. Meu raciocínio estava falho. Talvez ela não vá todos os dias à noite... Quem sabe ela vá de manhã, também, nos dias que não vou.
                Tudo bem, comi banana amassada com farofa – sim, farofa de por em carne, porque eu me estabanei.
                Toda vez que eu faço uma trapalhada há um gatilho na minha mente que faz com que eu lembre daquela moça linda que eu só vi uma vez e que mesmo assim já deixara uma marca em minha vida insignificante... Linda. Demais.
                Dia normal no trabalho. Aliás, tive o meu melhor desempenho.

29 de setembro de 2017, sexta-feira: Nada da moça à noite. Droga.

02 de outubro de 2017, segunda-feira: Novamente de manhã encontrei aquela linda. Isso provava que ela seguia uma rotina, só ainda não a identifiquei. Ela passou algumas vezes perto de mim e percebi que ela trocou uns olhares discretos comigo. Comi banana no café, mas meu estômago estava roncando. Fiquei sem energias e minhas mãos tremiam além do normal no supino, possivelmente por causa da alimentação insuficiente de antes, provavelmente por causa dos olhos castanhos claros mesmerizantes da sereia bípede. Meu trabalho se misturou com o encanto dela e nada mais tinha importância a não ser seus lábios nos meus.
                Ela foi embora e eu parei meus exercícios de prontidão na metade do total das séries predestinadas ao exercício de ombro que marcava exatos três quartos da ficha  destinada àquele dia. Sai da academia e fui embora... Ela ia no mesmo sentido que eu deveria ir, a pé também, então eu meio que a segui, querendo ou não. Obviamente que eu queria segui-la, não por mal, mas para poder saber quem ela era. Só que ela estava tão longe que nem percebeu que eu estava atrás. Virou em uma esquina qualquer e apertei o passo, sem parecer um maluco, mas sem perder a oportunidade de ver até que ponto ela continuaria naquela nova direção. Quando alcancei a esquina que ela virou, não mais a vi... Isto é uma informação valiosa, pois me afirma que depois daquela esquerda a casa dela não fica tão distante da esquina.
                Bom, bom, muito bom.

03 de outubro de 2017, terça-feira: Nem perdi meu tempo indo à noite na academia, pois sabia que ela não iria, pois tem cara e jeito de ser uma mulher metódica. Portanto, fui de manhã, período em que talvez ela pudesse ir, pois quando eu seguia a rotina frequentava o lugar nas segundas, quartas e quinta-feiras cedo.
                Eu me enrolei bastante nos exercícios e levei o dobro do tempo necessário para fazer todos, na esperança de que ela de repente aparecesse lá. Fiquei vigiando a porta de entrada toda hora, e toda hora que alguém entrava meu coração dava um pulo...
                Mas eu não a encontrei hoje de manhã.
                O trabalho foi frustrante e esqueci de tomar meu desjejum. Comi um mega sanduíche super nada saudável assim que coloquei o pé direito pra fora do escritório chato e opressor.
04 a 06 de outubro de 2017: Na quarta-feira eu fui no meu horário convencional, cedo, porque eu já sabia que não encontraria a moça de noite neste dia da semana. De qualquer modo, me assegurei de que ela seguia mesmo uma rotina e passei a pé, como se estivesse de passagem querendo nada com nada, na frente da academia, porém nenhum sinal dos seus longos cabelos ombré lá dentro.
                Na quinta-feira também fui cedo e dei uma passada despretensiosa à noite. Na sexta-feira fui treinar no período de manhã, bem de boa, e não a encontrei de novo. À noite, mesmo sabendo que ela não iria, decidi treinar de novo (duas vezes no mesmo dia), só na expectativa de que seu perfume suado passasse por aquele recinto como um anjo enviado por Deus...
                Bosta nenhuma. Nada dela e quase xinguei meu chefe no trabalho. Comi uma porcaria de manhã e sai da dieta pela tangente brutalmente. Deve ter sido um bolo recheado que nem lembro de ter comprado. Tanto faz.

07 de outubro de 2017, sábado: Claro! Acordei no meio da noite para ir ao banheiro, às quatro em ponto da madrugada, como meu relógio biológico sempre me obriga, e tive uma epifania: Talvez a moça fosse hoje de manhã, visto que a academia está aberta. Fiquei entusiasmado com minha ideia genial e coloquei o despertador para as sete horas em ponto, acordei e cheguei até antes dos instrutores no local, dei bom dia para eles e fui lá treinar minhas coxas e nádegas torneadas.
                Cadê a moça?!

08 de outubro de 2017, domingo: Eu já sei mais ou menos onde ela mora, então decidi, depois do almoço, ir perguntar aos vizinhos se eles não a conheciam, para eu saber seu nome. Peguei o carro com a banana de sobremesa na mão  e fui às redondezas de sumiço da minha diva. Puxando o freio de mão pensei no que falar aos vizinhos...
                Não consegui pensar em características que a descreviam! Embora eu tivesse a visto pouco – exatas duas vezes –, eu não consegui pensar em detalhes estéticos que a diferenciassem das outras. A moça não possuía nada de relevante, e talvez fosse por isso que fosse tão atraente. Era um semblante bastante genérico – genérico até demais –, de modo que desisti da ideia do interrogatório à vizinhança e descartei metade da banana na rua, por pura frustração.

09 de outubro de 2017, segunda-feira: Acordei super empolgado, comi duas bananas – uma amassada com canela e farinha de alguma coisa e outra não –, e fui trabalhar muito feliz. Foi o meu melhor desempenho desde meu último melhor desempenho! Cumprimentei todo mundo, tratei meu patrão com respeito que ele merecia, tomei um cafezinho com os colegas e ri demais nos intervalos! Hoje eu encontraria novamente minha linda na academia, à noite, em meio à insuportável baderna de monstros inchando fibras musculares e metal beijando metal ou porcelana.
                E lá ela estava, minha claraboia numa caverna triste e desolada cheia de morcegos que cagam em minha cabeça. Não usa nenhum tipo de anel nos dedos anelares, então talvez não seja comprometida. Entretanto, possa optar por não usar o anel na academia pelos motivos óbvios de não ser muito prático e machucar os dedinhos pegar numa barra com peso pesado. Linda, bela, estonteante! Sorri para ela, mas acho que ela não viu. Sorri outra vez, mas não viu novamente. Troquei alguns olhares, mas ela parece muito tímida. Fui para casa contente e dormi como um bebê.

10 de outubro de 2017, terça-feira: Tive um sonho muito apaixonante com a moça e acordei inflamado em desejo. Foi um dia especial o de hoje, pois, pela graça do destino, no caminho ao meu trabalho, encontrei a coisinha do meu coração andando na calçada nas proximidades do shopping, toda arrumada e maquiada, em torno de uma hora e meia da tarde. Deduzi que talvez ela trabalhasse lá a tarde, e isso já foi uma outra pista bastante boa. Outro dado muito legal e conveniente foi que ela não usava nenhum anel em suas mãos, confirmando que ela não namora, nem é noiva, tampouco casada.

11 de outubro de 2017, quarta-feira: Estacionei o carro e esperei ela passar perto do shopping, no começo da tarde. Almocei mais rápido que o meu comum para poder quebrar minha rotina e chegar um pouco antes naquele local, com o carro, para coincidir com a rotina dela. Certeza de que ela trabalhava lá, certeza! Ninguém se arruma tanto para ir ao shopping!
                Mas ela não passou!
                Meu trabalho foi um pouco abaixo da média... Fiquei um pouco abalado com a quebra de expectativas...

12 a 13, 16 a 20 de outubro de 2017: Passei novamente, todo dia, no começo da tarde, em torno das uma e meia da tarde, no bendito shopping, e não avistei ela nenhuma vez. Estive errado, ela não trabalhava lá, nunca mais a vi. Ela não foi dia 16 pela parte da noite na academia, e meu final de semana e semana posterior inteira foram um lixo. Eu me estressei muito no trabalho e avacalhei de vez com minha dieta, tanto no desjejum, quanto no almoço e mais tarde no jantar. Droga!

21 e 22 de outubro de 2017, final de semana dos infernos: Meus amigos me chamaram pra beber, mas eu não estava no clima...

23 de outubro de 2017, segunda-feira: Briguei feio com meu chefe e pedi demissão na merda do meu emprego. Joguei uma casca de banana na frente dele quando ele estava vindo me encher o saco, só para vê-lo escorregar, por pura maldade e descontentamento com minha vida. Foi engraçado, mas eu não tive vontade de rir. Piquei a mula e fui à noite na academia.
                Lá ela estava! Troquei muitos olhares com ela e me deleitei com sua beleza! Até esqueci de fazer um exercício. Ela sorriu para mim! Ela gosta de mim! Tenho chances, isso aí!
                Dormi que nem um anjo numa nuvem fofa!

24-27 de outubro de 2017: Decidi ir na parte da tarde à academia durante todo o restante da semana, pois antes eu não podia porque trabalhava. Não encontrei ela nenhum dia. Será que ela só ia uma vez por semana? Que desleixada, em.

30-31 de outubro, 1, 2 e 3 de novembro: Fiquei plantado em frente à academia só comendo barrinhas de cereais e tomando café na minha garrafinha térmica, dentro do carro, para monitorar melhor a vida dela. A moça realmente só foi segunda-feira à noite. Então esse é o dia! Na próxima semana vou fazer duas fichas de uma só vez no período noturno para aumentar minhas chances de ver ela! Sou muito inteligente e dedicado, ela vai me amar!

6 de novembro: Segunda à noite, faço bastante exercício e quase morro de fadiga. Linda, linda, muito linda. Adorei ela. Adoro ver ela. Adoro sofrer por ela. Por favor, me ame! Eu tenho muita coisa a oferecer, eu te amo demais, moça! Converse comigo, você parece ser interessante. Não tem nada de notável na aparência, então deve compensar com um conteúdo massa por dentro! Tesão! Que bunda! Que pernas! Ma-ra-vi-lho-sa, elixir dos deuses, pétala da primavera, pôr-do-sol em Vênus, puta que pariu que corpo gostoso!

Terça à sexta, sábado e domingo também: Fiquei em casa assistindo séries e pensando como fazer a moça me notar. Tive várias ideias, vou pô-las em prática a partir dessa nova semana que está florescendo. Eu vou conseguir conquistá-la! Seremos muito felizes juntos e nossos filhos terão meus olhos azuis e a beleza mística dela! Nossa, vai ser demais... Vou dormir e sonhar com meu amor, beijos pra quem fica!

Segunda noite:  MERDA! Ela entrou na academia de mãos dadas com um fortão! UM CARA FEIO E RIDÍCULO, SEM CONTEÚDO E DESINTERESSANTE! Ela estava usando um anel! POR QUE ELA usa anel NA academia²?? Isso machca a mão!!! Por que!! E o pior de tudo, o homem é um daqueles primatas que a ajudou a pegar a anilha no chão quando ela a derrubou lá no dia 25 de setembro de 2017, eu sei que é esse dia porque esse dia marcou a minha vida e eu tenho todos os detalhes guardados em minha memória fotográfica infalível meu Deus o que eu faço agora???w Ela está COMPROMETIDA com esse VAGABUNDO!!! MAS ELA SORRIU PRA MIM NO DIA 23 DE OUTUBRO DE 2017!!!!.... EU VOU MATAR ELE!!! MATAR, MATAR MATAR MATAR MATAR!!! HAHAHAHAHAHA!! Não... EU VOU MATAR ELA!!! ISSO!! Meu coração está em pedaços, quero chorar muito muito, MAS MUITO mesmo!!! :’(

Cedo, com banana  com casca na mão: eu podia ter perguntado o nome dela no primeiro dia... eu sou um fracasooo.... vou me matar... ninguem vai se importar com minha morte... cansei de bananas...
                Dor, muita dor e vazio



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