sábado, 24 de dezembro de 2011

Felicidades

Vamos começar pelo começo então. No começo era tudo novidade, magia. Posso dizer até que gostava das crianças e aqueles rostinhos contentes, realmente era uma satisfação enorme. O começo foi a... Se não me falha a memória, o começo foi a sete anos atrás.
Agora, vamos continuar, à próxima parte. Naquela parte em que ocorre mudança, algumas mudanças. O começo era tão invariável que para mim pareceu um dia apenas. Não posso dizer o mesmo do resto, isto é, depois do começo, pois cada dia era uma surpresinha. A começar pelo primeiro dia em que uma criança cuspiu na minha cara e os pais incompetentes não fizeram nada para ajudar, além de uma careta de nojo.
Sou magro, preciso me encher de almofadas para criar uma barriga. Rio jocosamente, pois é isto o que esperam de mim. Algumas vezes, dependendo da barba, não é necessário nem sorrir. O cajado maldito me destrói os braços. Fique horas a fio segurando aquela droga e você vai saber do que estou falando. Tento permanecer imóvel para não ter que me irritar com o sino. E isso força mais os braços. Fico sentado por tanto tempo que minha bunda sua. Da linha do Equador para baixo, a indumentária não é uma escolha inteligente. A bota é uma bosta.
O próximo evento foi uma menininha sentando no meu colo tentando me seduzir. Isso mesmo, uma criancinha tentando me seduzir. Tipo gerontofilia, meu santo caralho! Foi a partir daí em que eu já não sabia se gostava ou não de crianças.
Se fumo, a criançada chora. Se visto a roupa, a criançada chora. Se eu me desvisto, a criançada chora. Se bebo até cair na sarjeta, a criançada chora.
Lembro-me de um pirralho que tocou na minha barriga e me chamou de charlatão. Exatamente com esta palavra. Ora, pirralho, deixa-me falar-lhe algumas verdades. Mas se o faço levo cintada dos pais. Outro apenas falou que minha barriga era engraçada. Aquelas risadas banguelas nojentas.
Se cai a minha barba, eles choram.
E há aquelas crianças que sentam em cima do saco. Daí já não sei mais de nada. O sangue não sobe à cabeça. Dor, agonia. E o cajado sempre em pé. Dor, tristeza. O pior é quando acabam as balas do meu saco vermelho. Daí o que passa a doer é o ouvido. O choro vem de um só lado. Não tenho escolha senão ficar zonzo e quase derrubar a criança.
A última gota foi quando eu realmente derrubei uma criança do colo. Logo que caiu parou de imediato o choro. Eu me levantei e saí correndo, jogando barba, barriga, touca, docinho de maracujá e morango para todo mundo. Menos o cajado, para me defender. Meu grande cacete. Contra os papais noéis mais nobres. E o sino tilintava sem parar.
Ho ho ho minha bunda. Suada.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Bons modos

Olá, tudo bem?
Sim, bem, e você também?
É, também vou bem.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ordem

Hoje de manhã o homem do sonho disse para eu não ir trabalhar. Depois do almoço ele disse para eu não ingerir qualquer comida comprada ou roubada recentemente em qualquer supermercado.
Amanhã este mesmo homem me disse para eu não deixar de assistir à televisão, às oito horas e um minuto da noite, no canal vinte e um. Um comunicado importante do governo seria transmitido ao vivo ao povo em todos os canais. Durante os comerciais do canal vinte e um passaria um frame horroroso, entre a propaganda do bebê que urina e do desenho falante.
Depois de amanhã, este homem disse que ligar a televisão em qualquer canal seria cilada. Na estação de rádio noventa e nove ponto dezessete todos, até o governo, ouviriam, às nove horas e dois minutos da noite, um grito agudo de clemência, um rabisco com voz.
Depois de depois de amanhã, o homem estalou os dedos e apontou o indicador para a porta da frente, dizendo que o homem do correio estaria armado e bateria na madeira da mesma maneira como é acostumado, porém estaria armado.
Amanhã deste dia, o homem disse para eu não sair de casa no período matutino a partir deste dia.
Amanhã deste dia, o homem disse que o futuro não existe.
Amanhã deste dia, o homem disse para eu não vestir nenhuma roupa e não sair de casa no período vespertino a partir deste dia. Preciso inspecionar a casa à procura de pragas caseiras e preciso preparar uma macarronada à bolonhesa.
Amanhã deste dia, o homem disse para eu sorrir. Preciso tirar meus dentes.
Amanhã deste dia, o homem disse para eu ligar para a minha ex-esposa e ameaçá-la de morte.
Amanhã deste dia, o homem disse para eu rir.
Amanhã deste dia, o homem disse para eu ignorar as vozes e fazer somente o que ele mandou, que é pegar o fórceps do sótão, das antiguidades do meu pai, e, sem roupas, sair da minha casa pela janela da frente e correr feito um grego. Preciso pular o muro e arrebentar a janela da entrada, subir as escadas e cuidar com os degraus, comer um excremento de rato do rodapé e fazer trabalho de parto na boca da minha ex-esposa de pijamas.
Amanhã deste dia, o homem disse que as pessoas vivem no passado. Outro homem martelou a mesa e disse que eu estava condenado a sofrer.
Amanhã deste dia, o homem não disse mais nada. Ele era barbado, cabeludo e magro.

Pedido


Estrela cadente,
Corte essa droga de céu
E caia na gente.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Jackpot

I’m wondering, what are the odds of that happening? Seriously, I had everything. Well, not everything, but very close to that. I told the badass looking – mannish for sure – tall man with the hairy chest to cash me up. Now I have all the crap minus ten pennies.
First of all, I’m in Tha House. Nuff said. Secondly, I’m pretty goddamn screwed.
There was me sitting there, ‘course, then the farmer, the mofo, a hot gal, a nerd gal and the badass looking tall man. The farmer is an ol’ bastard covered in shait. He was chewing tar or shait. He’d got it from among all the dirt of his fucked up pocket. He sure has a fucked up pocket. And cheeks. He wears a nifty though simple hat.
The mofo is a motherfucker. Nuff said.
The hot gal has these killer tatas. She’s a butterface. I’d got a boner back then. Now I feel like my dick’s gonna fly away pissing over everyone’s brain.
The nerd gal has fewer tits than me. Nevertheless, she’s awesome from above the shoulders line. But she lacks tits. What a buzzkill, god.
And the tall man is really tall. And badass. Lucky me he wasn’t playing along with the circus.
No wild cards, simple and classic game.
There was me happier than never for winning a huge amount of dough, thinking about smoking some pot. The hot gal was the dealer. Whilst she was dealing the cards, ‘course, I mooned over the idea of her entire weaponry in ma mouth. I don’t wanna close my eyes, every moment I spent with you is a moment I treasure and all this crap. The nice silicone bags.
I was the small blind. Everyone called the bet but the mofo. The mofo raised a little, then everyone but the nerd gal called cold. The nerd gal instantly folded, no crying call at all.
The hot gal’s perfect arms faced-up the flop, and there was the queen of spades, the jack of spades and the two of clubs. Everyone checked. But the mofo didn’t. The moron raised greatly the friggin’ pot. I called, yeah. The farmer and the remaining gal did too. The badass tall man was frozen solid, doing what he does the best: tacitly looking all the fucking cards of all the remaining fucking hands.
And so came the turn. A king of some shit suit.
Did I mention I had a pair of kings?
So, I raised. The gang called. The mofo raised. All the fuckers, including me, called. The nerd gal was annoyingly scratching her flat butt. The farmer was doing noises with his mouth, noises only farmers with tar or shait can do.
Henceforth, heads are gonna roll.
I was looking at my gorgeous bankroll when the river blew the crap outta the people’s mind. A fucking two, you’ve gotta be fucking kidding me, god. And now, simply as that, I’d got a full fucking house. I tried to keep my poker face, but god knows I ain’t gifted.
I began raising, everyone called and raised like nuts. The bimbo raised some times, the mofo another one, the farmer calling, mofo’s all in there, me fucking raising. We raised to infinity and beyond.
Now the showdown.
Firstly, me, thank you. I said “I have a full fucking house.”
The hot bimbo said she had an “ace high straight.”
The farmer had a set of twos and the mofo didn’t have a single piece o’ shit.
The nerdy shouted a high frequency yet brief mechanical wave, thank you.
When I was pulling the pot the farmer said “Kid. Stop that shit.” I looked closely to his deep dreary eyes, he spat and said “Now.” I laughed so much and said “Nice joke, grandpa.” He didn’t laugh. I bet he didn’t like the joke.
Then my balls dropped off.
The bastard had a packed deuce in his hands, leaving him with a quads. Kicking my arse. I was supposed to move my arms, when my skin was turning pale and my guts were doing their artwork. For the first time the badass looking man retreated from the farmer’s surroundings. That’s another way fear found to say hi.
I’ve got no money. Well, very close to that. And my hunger’s only getting bigger and deeper.
Good lord, mommy’s so gonna fuck me up.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Roberto teve um dia estressante




Roberto teve um dia estressante, só pensa agora em seus filhos e em sua linda esposa. Especificamente, ele quer abraçar a sua pequena família após passar pela porta da entrada de casa. Enquanto isso, atravessa a noite típica em seu carro de classe alta. Um carro desses só está na classe média com muito esforço.
Roberto avista um de seus amigos de longe, grita o nome de longe. Brinca com o amigo, de longe. E o amigo longínquo responde assim: Roberto! E assim eles brincaram, sorrindo sem realmente sentir a graça. Ao mesmo tempo em que vê o amigo, este amigo vê uma amiga do pai da amiga desse tal amigo de Roberto, e assim ele assovia: Fiu-fiu! E é assim que acontece.
Roberto sente um pouco de ciúmes pelo amigo dele ter um amigo, especificamente uma amiga. Ele quer uma dose de realidade esporádica para sair do seu mundo narcisista, mas querer não basta. Até gosta um pouco da altura, porém por vezes vê a família como posse e se sente envergonhado.
Roberto sabe que o mundo gira, porque ele soube algum dia. Precisamente, e empiricamente, estava bêbado demais. E daí percebeu que o mundo não existe estacionado. Envergonhou-se no outro dia, mas a dor de cabeça era maior que nem conseguia pensar direito.
Roberto estudou direito do jeito certo, o que de certo jeito acabou bem legal. Advogado mesmo, é advogado mesmo. E dos bons, mas não o melhor, e longe do melhor. Longínquo que está no meio do caminho do Enorme Sucesso. Mas ele está bem. Ele e sua família se encontram bem no mundo.
Roberta ouve o tilintar das chaves e já avisa as crianças, Rodrigo e Rodriga, que se escondem por brincadeira. Esbarram as canelas num canto vivo. Antes de encontrar sem muito esforço os esconderijos, Roberto cai de boca na esposa. E pensando em brincadeira, mete o dedo nela também. Dá dois passos de Roberta e finge que não sabe onde os filhos estão. Como o macho está debaixo do cobertor, no sofá, e a fêmea debaixo da coberta, num sofá, Roberto senta intencionalmente na cabeça de um e finge que é um calombo anormal. Rodrigo grita e ri e Rodriga ri e Roberto acha os dois e sorri. Abraça-os e beija-os, sem olhar para o teto.
Rodrigo já vem com o papo dele de escola, e Roberto finge que ama esse papo e essas estórias absurdas. Certamente se amam, mas têm muitos problemas. A esposa, por exemplo, tem fisgadas no pescoço toda hora que vê a hora e o esposo têm o dedão encravado. Os filhos são mais novos que os pais. A peça mais importante é o pai barbudo, porque trabalha. Rodriga pula de entusiasmo e não vê a hora de começar a tagarelar seus sonhos e depravações. Ela é muito depravada. Tem pus fervilhante no teto e todos morrem.