sexta-feira, 6 de maio de 2011

Fora o corriqueiro, apenas dois detalhes

É só deslizar o box pro lado de lá e entrar topless e bottomless. Desnudo como um bebê que nasceu. Mas este neném tem pensamentos sujos em qualquer ato, e quase sempre não se importa com a opinião dos tabus e chora de rir dos tablóides. Não que os tablóides tenham uma relação semântica, além da sonoridade distanciadamente próxima, mas é que é necessário falar um pouco da vida, tratando cada mínimo detalhe como a vida em si.
Há uma lógica que explica o que acontece nesse banheiro, quando não estou ou quando estou presente só na acepção física. A explicação para lingeries espalhadas num varal aleatório inimaginável, xampu escorregadio escorregando no piso cerâmico e alguns talvez cabelos da cabeça que compõem o cenário típico da hora do banho nesta casa. Já sou imune às interrogações pontudas.
É normal, é a vida.
Aliás, largas lingeries.
Era o processo do banho que me despertava as maiores curiosidades. Ou seriam as curiosidades que me despertavam o maior banho?
Fecho a torrente de água, morna do jeito que meu bumbum adora. Envolto em toalha seca que se molha de senso comum, o cheirosinho asseado aqui entra no carro bom dele. Os mais peculiares detalhes são os deixados de lado, como, vale a pena mencionar, o risco lateral insano que o carro vergonhosamente ostenta. Já me acostumei com isso. Foi quando processei o meu advogado. É uma longa história.
Ajeito-me no carro e engato a marcha ré – não me perguntem por que – e lá se vai o porta-malas. No drive-thru o stress dança e a fome anseia nacos de cheeseburguer gorduroso, na medida em que os olhos anseiam pelo ketchup vermelho à parte escorrendo e inversamente proporcional ao sonho do buraco do carro de não ser violado. O buraco do carro soa tão perverso, mas é só o negócio, o lugarzinho em que ficam o molho de chaves e umas tartarugas-marinhas, micos-leões dourados, onças pintadas e garças amassadas. E o ouvido quer ouvir palavras sacanas.
Soslaio. Soslaio. Soslaio. Soslaio. Soslaio. Molho. Satanás.
– Um cheeseburguer, moça. – chego ao meu turno.
– O ketchup é à parte.
– Eu sei, moça.
– E você está sem roupa.
– Eu sei, moça. É a vida.
O automóvel de ar condicionado direcionado está sufocado por rímel, glitter, cola, blush, pólvora e maquiagens outras de drag queens. Os fetiches espontâneos da minha mulher, meter em drag queens com herpes. Aperto o botão, que a qualquer hora chafurdará no polímero, e o rádio ressuscita meu CD. Fechando os olhos eu percebo um strap on debaixo do pedal do freio.
Que feeling! Ó! Humm! Uhum! Sim! Guitarras e guitarras devassas com suas palavras batutas. Ó sim.
          Caminhando pelo caminho à porta, o som do home theater está estourando e é notável de fora de casa, quando penso em bonecos sem cabeça e uma linguiça minha entrando nestes por onde der. Girando a maçaneta de ferrugem metálica que machuca a mão, minha toalha cai e minha mulher está improvisando uma apresentação erótica com chantilly, para caminhoneiros de peitos pretos peludos.
            Minha mulher não, meu homem.
            É um homem. Essa é nova. 
            E mascando chicletes. Eu achava que ele era vegetariano.
            A longa história da minha vida.
            Que cheeseburguer gostoso.