sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Você já sabe

Primeiro você nasce, e daí ganha o primeiro documento, que prova que você nasceu. Mais uma criança no mundo, muitas crianças no mundo. Coisa fofa ou, geralmente, não. Muita gente no mundo. Para alguns, pessoinha. Pode até ser batizado num altar ou numa piscina. Dependendo da sua sorte a água entra nos seus pulmões. Nosso pequeno nadador.
Fraldas, muitas, comida de bebê, berço que mais tarde vai quebrar, chupeta, chupeta, chupetinha, mamadeirinha, um estoque de verduras e legumes e frutas que mais tarde você largará e mais tarde ainda simplesmente não comerá mais, e brinquedos que talvez serão substituídos por caixas de papelão e fitas sem sentido. É possível que você brinque com lixo sim. Natal, mentiras, fada dos dentes, algumas coisas que não cabem na sua consciência.  O dinheiro gasto com você poderia ter sido aplicado na casa ou no carro.
Fotos, fotos, fotografias.
Que coisa fofa e desdentada.
Álbuns, álbuns, e mais álbuns e não se esqueça que provavelmente você foi um acidente.
Olá dentes, tchau dentes, olá dentes permanentes. Faça uma palhaçada pras visitas e deixe papai e mamãe orgulhosos.
Daí passa tempo demais, você cresce de tamanho de tanto ouvir dos outros que você cresceu bastante. Ainda você é uma coisa linda, mas está ficando um pouco mais nojento e menos delicado. E se você é um psicopata, esta é uma boa hora para arruinar a vida dos seus pais.
A escola.
Muitos peidos na escola.
Vem a época em que você ri ou chora quando vê uma foto de mulher pelada. A época em que professores abusivos abusam de você de alguma maneira, e como crianças são idiotas não adianta insistir em revoltas. Até é divertido, mas depois de uma década não há lembranças.
Parte ridícula.
Crescendo – mais ainda – que nem um retardado – mais ainda – desengonçado. Olha só o pelinho pubiano. Diga olá para ele e vá se acostumando, porque, sem o seu consentimento, uma galera de pêlos vai brotar do nada. Uma dica para aumentar a sua virilidade em cinco centímetros é raspá-los.
Agora é o seguinte: ou você vira um festeiro beberrão idiota ou você vira um gênio reprimido. De qualquer maneira, o seu computador vai se encher de vírus. E daí o seu computador pessoal vai se encher de vírus e até o seu celular vai ser infectado. Se sua mente for aberta mesmo a masturbação é válida para fotografias de ambos os sexos. Não significa ser bissexual.
Agora o mundo é feio e sexy.
Aos dezoito anos você está crivado de documentos.
Então, ou você faz sexo ou não.
Busca intensa e suarenta por emprego que se encaixe com suas aptidões. De acordo com a televisão, você precisa encontrar um tal de Sucesso. Se você é ateu, você não vai a igrejas e se você for religioso, você vai e não vai à igreja. Simples.
               Pode ter umas vacinas pendentes, mas nunca realmente, possivelmente, pode ter ficado doente.
Se você acha que o casamento é uma beleza, você formará em breve uma família e se divorciará mais três vezes e espalhará três novas histórias por aí. Em geral casamento é superestimado e a família tradicional é uma piada. Nessa época dá para encher a cara e contar os seus relatos de aventura da adolescência. Muita cagada. Muita risada. O corpo humano é forte.
Desemprego, emprego, desemprego, emprego, velório do pai, desemprego, emprego, velório da mãe. Desemprego pra completar a cagada. E divórcio. E um tiro na perna.
Dá para acelerar essa droga porque a vida é longa.
E volta a nojeira. Isso se você já não morreu atropelado antes.        
Olha só, um velho amiguinho de infância entra novamente em sua vida! As fraldas! E não pára por aí, olha quem mais voltou: a comidinha de bebê! E mais:
Na verdade, menos.
E menos: tchauzinho para os dentes permanentes. Nesse ponto você e o seu coração já se acostumaram com despedidas. E volta a moleira.
Seu inútil.
Dentadura. Dá para tentar comparar com o aparelho ortodôntico de alguns cinqüenta anos atrás, e o cigarro faz muito efeito agora. Você já muda de opinião. O corpo humano é frágil. Os avisos de saúde são reais mesmo, e, dependendo da sua sorte, você pode até virar foto de caixinha de cigarro. É só nojeira.
Senilidade, lembranças.
Nada para fazer. Percebe-se que a rotina é um chute no orifício. Há uma certa simetria nos fatos.
A essa altura ou você é ranzinza ou um astro imortal do rock.
E daí você morre.

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