Roberto teve
um dia estressante, só pensa agora em seus filhos e em sua linda esposa.
Especificamente, ele quer abraçar a sua pequena família após passar pela porta
da entrada de casa. Enquanto isso, atravessa a noite típica em seu carro de
classe alta. Um carro desses só está na classe média com muito esforço.
Roberto
avista um de seus amigos de longe, grita o nome de longe. Brinca com o amigo,
de longe. E o amigo longínquo responde assim: Roberto! E assim eles brincaram,
sorrindo sem realmente sentir a graça. Ao mesmo tempo em que vê o amigo, este
amigo vê uma amiga do pai da amiga desse tal amigo de Roberto, e assim ele
assovia: Fiu-fiu! E é assim que acontece.
Roberto
sente um pouco de ciúmes pelo amigo dele ter um amigo, especificamente uma
amiga. Ele quer uma dose de realidade esporádica para sair do seu mundo
narcisista, mas querer não basta. Até gosta um pouco da altura, porém por vezes
vê a família como posse e se sente envergonhado.
Roberto sabe
que o mundo gira, porque ele soube algum dia. Precisamente, e empiricamente,
estava bêbado demais. E daí percebeu que o mundo não existe estacionado.
Envergonhou-se no outro dia, mas a dor de cabeça era maior que nem conseguia
pensar direito.
Roberto
estudou direito do jeito certo, o que de certo jeito acabou bem legal. Advogado
mesmo, é advogado mesmo. E dos bons, mas não o melhor, e longe do melhor.
Longínquo que está no meio do caminho do Enorme Sucesso. Mas ele está bem. Ele
e sua família se encontram bem no mundo.
Roberta ouve
o tilintar das chaves e já avisa as crianças, Rodrigo e Rodriga, que se
escondem por brincadeira. Esbarram as canelas num canto vivo. Antes de
encontrar sem muito esforço os esconderijos, Roberto cai de boca na esposa. E
pensando em brincadeira, mete o dedo nela também. Dá dois passos de Roberta e
finge que não sabe onde os filhos estão. Como o macho está debaixo do cobertor,
no sofá, e a fêmea debaixo da coberta, num sofá, Roberto senta intencionalmente
na cabeça de um e finge que é um calombo anormal. Rodrigo grita e ri e Rodriga
ri e Roberto acha os dois e sorri. Abraça-os e beija-os, sem olhar para o teto.
Rodrigo já
vem com o papo dele de escola, e Roberto finge que ama esse papo e essas
estórias absurdas. Certamente se amam, mas têm muitos problemas. A esposa, por
exemplo, tem fisgadas no pescoço toda hora que vê a hora e o esposo têm o dedão
encravado. Os filhos são mais novos que os pais. A peça mais importante é o pai
barbudo, porque trabalha. Rodriga pula de entusiasmo e não vê a hora de começar
a tagarelar seus sonhos e depravações. Ela é muito depravada. Tem pus
fervilhante no teto e todos morrem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário