-Como vocês podem notar na apostila, Cambises morreu empalado pela pró...
As vozes, por mais altas e irritantes que sejam, somem. Simplesmente, somem. E eu aqui, testando cada objeto.
Pego uma caneta azul do meu estojo e tiro a tampa. Coloco-a na extremidade oposta à que escreve e começo a fazer um pouco de pressão, com a ponta, sobre o braço. Levanto a caneta e abaixo. Sucessivamente. 1, 2, testando, testando.
Tento depois na coxa. Para cima e para baixo, como um pêndulo, só que deitado. Movimento harmônico simples.
Tento depois na coxa. Para cima e para baixo, como um pêndulo, só que deitado. Movimento harmônico simples.
A caneta não funciona e me riscou todo. Quem sabe o compasso dê.
Que porcaria esse compasso, quando mais o precisamos, ele some. Como que num estojo pode sumir tanta coi... Droga, acabei de me lembrar que esqueci a porcaria do compasso em casa. Em cima da escrivaninha.
Quem sabe este pedaço de ferro seja útil.
Puxo e empurro o tal pedaço, localizado na parte inferior da carteira, onde se deixa a mala e materiais. Um ferro fino e comprido, paralelo a outros cinco. Perpendiculares a outros dois ferros, mais grossos, que ligam pés consecutivos da cadeira. Um ferro grosso na frente, e outro atrás. Ligando os dois pés dianteiros e os dois traseiros, respectivamente.
Puxo e empurro... Essa droga não vai sair tão facilmente. Melhor eu parar e pensar em algo diferente.
Puxo e empurro... Essa droga não vai sair tão facilmente. Melhor eu parar e pensar em algo diferente.
-Quem arrisca um palpite? O vencedor vai ganhar uma bala! Qual o valor de x? Alguém?
Mas que droga, nem percebi o professor de matemática entrar. O mundo realmente sumiu. Ou ando muito distraído.
Vou ouvir um pouco de Metal, quem sabe me venha alguma idéia à tona. Peguei meu celular, só falta desenrolar esses fios ridículos dos fones. Estas porcarias sempre se enrolam numa urgência.
Ok, consegui. Pluga, clica, aplicativos, player, minhas músicas, Metal, Pantera, Walk.
Ah, o som do caos. Um caos tão lindo. Um caos que nos afugenta deste mundo. Um caos pacífico para meus ouvidos. Muito bom.
A exatamente 2:41 minutos de música passados, encaro aquele idiota do outro lado da sala. Aquele acéfalo. Primata. Retardado. Escroto. Ele e sua chapinha tosca.
Eu preciso achar algo bom o suficiente para a tarefa, urgentemente! O intervalo já deve estar chegando e ele parece estar com vontade de mijar.
Pense rápido John, pense... Pegue o estojo John, e pense, teste mais alguns objetos.
Caneta, não.
Corretivo, sem ponta.
Borracha, sem vértice e mole demais.
Apontador de metal, nem pensar.
Régua de metal... Ótimo.
É pontuda, mas não o suficiente. Pense John... Já sei, vou amolá-la.
Caneta, não.
Corretivo, liso demais.
Borracha, absolutamente não.
Apontador de metal... Perfeito.
Com muito cuidado começo a amolar. Olho para os lados todo momento, não existo para eles. Eles não existem para mim. E logo, aquele emo do outro canto da sala não existirá também.
O relógio de ponteiro marca exatas 8:56 horas. O intervalo é às 9:00 horas. Uma mijada não passa de 1 minuto. O caminho até o banheiro, andando calmamente, leva uns 30 segundos cronometrados. Para amolar esta régua, tempo indefinido.
Droga, quase terminando...
- E por hoje é só. Aula que vem tragam este trabalho sobre metais. 30 pontos.
Cacete, aquele vagabundo está saindo. Amola mais rápido!
-I, olha o maluco ali correndo com uma régua. Que babaca.
Tenho que correr, seu gordo babaca. Enrolei demais e já se passaram 1:20 minutos desde que aquele otário das calças justas e cabelo alisado saiu da sala. Não está com fio o suficiente mas forçar um pouco deve dar conta do recado.
Corra John, corra. Quase lá, ele está lavando as mãos. Corre! Pule! Empale!
Corra John, corra. Quase lá, ele está lavando as mãos. Corre! Pule! Empale!
-AAAAA! MEU OMBRO! AAAAA! PARE SEU LOUCO! ALGUÉM CHAME O DIRETOR! SOCORRO!
Cale a boca, cale a boca.
-CALE A BOCA E MORRA VAGABUNDO!
-O QUE EU FIZ? MINHA BARRIGA!
Tome, tome, tome! Corta, corta! Sangue, sangue! Rasgue!
-NÃO GOSTA DE CORTAR OS PULSOS SEU EMO VAGABUNDO? TOME!
-AAAAA!
Merda, cadê a régua? Não acredito que prendeu no punho dele. Pense rápido John... A pia!
-TOME! TOME! LAVE A BOQUINHA!
Para cima e para baixo. Puxando com força e empurrando com o dobro da força. Puxando x e empurrando 2x. As leis da física em ação.
-PÁRA! PÁ...
Engula os dentes, engula o sangue.
-ARRUME O CABELO AGORA VIADINHO! ARRUME! CHAME SEUS HOMENS!
Droga, quebrou a pia. Pense, pense... O joelho!
-VOCÊ NÃO VAI MAIS PRECISAR DESSAS PERNAS!
E agora?? Quebrei. E agora... A privada!!
-QUEM MANDA NÃO PUXAR DESCARGA? AGORA ENGULA!
-JOHN! VOCÊ ESTÁ EXPULSO!
Droga, o diretor. Droga, não percebi, o cara já morreu na pia. Foi divertido. O doce som da agonia. A doçura do caos. A paz do caos.
-Tchau diretor bundão!
-John! Volte aqui! Afaste-se da janela imediatamente!
Agora vejo minha vida passando por meus olhos. Ou seja, estou praticamente cego. O chão está ali e não durará mais que 5 segundos e alguns andares. As leis da física em ação...
Nenhum comentário:
Postar um comentário