sábado, 15 de maio de 2010

Veredicto


Vasto céu azul, outro dia começa. Azul como uma gelatina blueberry numa taça transparente, com uma colher média repousando sobre a superfície,  e leite condensado nas bordas. Um homem qualquer, terno e gravata pretos como a escuridão da floresta no período noturno. Sapatos marrons cor de esterco e camisa branca como as nuvens refletidas em um lago.

Termina de comer suas torradas e de tomar seu cappuccino cremoso. Despede-se de sua esposa loira, beija-a na boca, mete a língua garganta adentro e agarra sua nádega esquerda. Se dirige à porta, vira a maçaneta e recebe um tapa na bunda, seguido de uma risadinha e piscadela.
 
Sai de dentro da casa e caminha em direção à garagem. Na garagem há três carros, um vermelho-cereja, uma BMW de sua filha de 16 anos, e o carro de sua esposa, igual ao seu, só que escrito "SARA-1974" na placa traseira. Ao invés de um "THE LAWYER", de seu carro.

Com a mão esquerda empunhando uma maleta negra, gorda de papéis, este homem abre a porta do  banco do motorista de seu Audi. Entra, solta a maleta no banco do passageiro e coloca o cinto de segurança. Liga o rádio, coloca um CD do Led Zeppelin e dá partida. 

 Vai ao trabalho em seu carro vermelho-cereja, como uma cereja solitária numa cerejeira.

            No caminho de seu trabalho, resolve comprar bombons de licor, daquelas pessoas que vendem no semáforo, quando vermelho. Aquelas que os penduram nos retrovisores de praticamente todos os carros estacionados momentaneamente, e depois os recolhem com imensa rapidez, junto com alguns trocados. 

              Desembrulha um e começa a comê-lo, com o sinal ainda vermelho. Começa com uma abocanhada que retira um naco suculento.

            O sinal se torna verde, ele joga o embrulho no chão do carro. Com duas mãos meladas no volante e um bombom pendurado na boca, sendo mastigado, nosso trabalhador continua a dirigir, com o CD na faixa 4 - “Dazed and Confused”.

            Após um tempo, pára em outro semáforo, ignora mais dois vendedores errantes de doces e desembrulha outro bombom. Desta vez consegue comer a tempo, porém limpa as mãos na calça social rapidamente. Sinal verde..

            Dirigindo por mais duas faixas musicais, desta vez ouvindo “Black Mountain Side”, avista algo, logo à frente. Aparenta ser uma blitz. Estranha, pois ainda é cedo, mesmo para Manhattan.

Pára o carro e faz um suposto teste do bafômetro. Os oficiais da lei pedem para que ele saia e fique com somente um pé sobre o meio-fio. Com seu carro no sentido da mão direita da rua, no acostamento, o homem se vira para a direção oposta, para realizar o teste.

Termina o teste, olha para trás para saber os resultados e... Cadê o carro?

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