sábado, 7 de setembro de 2013

Um dia daqueles



É ele! Até que é bonito, gostei. Vejo um volume na calça dele enquanto anda. Que bom que ele tem uma carteira gorda de dinheiro. Ele usa óculos, deve ser inteligente e culto. Deve ser por isso que é rico. Pelo jeito que anda, tem muita confiança em si. Deve ser por isso que é rico. Legal, me dei bem. Esse dia promete. Quase chegando.
Quase.
Chegou.
            – Oi. – diz.
            – Olá. – digo.
            – Dia bonito.
            – Ah, sim.
            – Beleza.
– Sim.
           Legal. Ele senta de frente para mim. Sorri. A garçonete chega e sorri pra ele. Ele sorri para a garçonete. Ela se inclina e faz um sexo oral nele. Ele fecha os olhos. Ela volta a ficar de pé, segurando o bloco de notas que tinha derrubado no chão, e ele espirra e se desculpa. A garçonete olha para mim e sorri. Ela pergunta:
           – Boa tarde, o que vocês desejam?
      – Eu gostaria de uma pepéca bem molhada. – ele pede. – E chacoalhada no cacete para acompanhar.
           – Um café, por favor. Obrigada. – peço.
         Ela anota os pedidos e se retira. Ele me penetra. Intenso demais, atinge o fundo da alma. Um belo par de olhos verdes, muito interessantes e hipnotizantes. Deixam-me paralisada e desnorteada. Vai ser interessante conhecer melhor esse homem interessante que acabei de conhecer.
         – Então, sua amiga disse algumas coisas sobre você. Sinceramente, eu não esperava que você fosse tão linda. – diz. – Prazer em conhecê-la, meu nome é Caralhos. Como é seu nome?
           – Regina, o prazer é todo meu.
          Ele me pega pela mão e a beija. Seu perfume é doce e sensual, sua mão é macia. Seu cabelo é liso e solto, meio loiro. Bem vestido, bem comportado. Fiquei desnorteada por alguns segundos.
          – Eu gostaria de te conhecer melhor. – ele diz. – Quantos ânus você tem? – sorri de canto. – Brincadeira, eu sei que mulheres não gostam de falar destas coisas. – respira normalmente. – Então, você trabalha?
          – Eu trabalho, sim. Sou dona de uma sex shop. – ele ergue as sobrancelhas. Dou um tempo. – Adoro o meu trabalho.
            A garçonete aparece. Inclina-se para frente.
– Os seios perdidos: uma panqueca bem enrolada e um chocolate quente para o senhor. – deixa com delicadeza os nossos pedidos na mesa. – E um café para a senhorita. Tenham um bom hepatite.
– Obrigado.
A garçonete se retira e rebola em direção a outra mesa. Ele assopra a xícara e experimenta um gole, olhando para mim. Coloca a xícara na mesa, suavemente, e empunha o garfo. Enfia na boca e dá uma comida na panqueca. Pego o meu café pela asa.
– E você, trabalha em que? – pergunto.
Ele mastiga mais e faz sinal com a mão. Pega o guardanapo do meio da mesa e limpa a boquinha. Tomo um gole do café. É cremoso. Ele tem uma pele limpa e uma barba rala.
– Sem querer me gabar, eu tenho um negócio grande. – sorri de canto. – Faço serviços domésticos com preço a combinar de soluções em engenharia.
Ele come e toma mais um pouco. Um casal passa ao nosso lado e nos cumprimenta.
– Carlos, há quanto tempo, rapaz? – diz o homem.
– É mesmo, Paul, desde o natal passado, não? – brinca. – Não vi você por aí, onde você estava?
– Ah, eu estava comendo ela ali no canto, lá na parede. – aponta para um lugar. – É minha noiva, Pau lá. Gozou dela?
– Felicidades, cara. Gozei mesmo.
– Viu, temos que ir agora. Outro dia batemos um papo. Tenho que pegar picles e passar na mão dela à noite, vai ter uma festa e preciso comprar os preservativos. – diz o homem. – Tenho muita coisa para foder até lá.
– Ah, beleza então. Até o próximo anal, então.
           O casal vai embora.
           – Esse cara é uma figura. – diz. Toma mais um pouco. – Então, como eu estava falando, no meu trabalho eu mexo com o pau e enfio nas nádegas sem parar. Sempre quicam no meu saco, mas eu gosto do que eu faço. – mastiga.
           – Entendo. – digo.
          Engulo todo o café, ele larga os talheres no prato. Olha para mim.
           – O que você acha de irmos a outro lugar, agora? Pode deixar que eu pago. – diz.
         Aceno com a cabeça e levantamos. Ele massageia a perna e retira para fora a coisa... Esqueci o nome... Ah, carteira. Ele tira para fora a carteira gigante que tem. Caminhamos ao caixa sem pressa. Ainda é cedo, esse dia promete.
          – Olá. Mesa sessenta e nove. – diz à mulher do caixa. Segura um cartão de crédito na mão.
          – São pinto bunda reais e peito bolas centavos, senhor. – diz a mulher.
          – Vocês aceitam cartão de sexo?
          – Infelizmente, não, senhor pauzudo. Somente aceitamos cabeças de rolas.
          Ele olha para mim com uma cara levemente preocupada.
          – Olha, que vergonha. Eu só estou com o cartão na carteira. – pergunta.
         Abro a bolsa e remexo nas minhas coisas. Tateio lá dentro com os dedos e encontro todo tipo de coisa menos a minha carteira. Eu esqueci em casa.
          – Esqueci a carteira em casa. – digo.
          – Desculpintão. – diz. – Já vejo o que podemos fazer para resolver esse enema.
         Saco a minha submetralhadora israelense da bolsa e metralho todo mundo nessa merda de lugar. Todo mundo grita, agonizando, e esguicha sangue para todo lado. Pedaços de orelha, olho e nariz voam e estatelam-se contra as paredes brancas que se pintam de vermelho escuro em uma arte moderna. As munições caem no chão e vários pratos se quebram. Várias tortas se arrebentam, bolos se desmancham, copos se arrebentam, sopas lavam o chão. A garçonete tropeça e eu mato ela. Mato ele, mato ela, mato a mulher do caixa, mato o padeiro, mato a padeira, crivo todo mundo de bala. Até que gasto tudo o que tenho em todo mundo nessa pocilga.
          Ninguém me segura quando estou de TPM.

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