segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Piada


            O que é mais engraçado que um coração em pedaços?
            Resposta: Um coração em farelos.
           
            Isso resume muito bem a tragicomédia que está para ler.
 
             Tudo começa quando você tem um sonho mágico. Esse sonho mágico, é muito mágico. Tão mágico, inicia um conto de fadas. Apaixona-se por um ser humano que vê diariamente. Nesse sonho, primeiramente era só amigo desta pessoa. Do nada, apaixona-se. Mas ela não quer nada e deixa muito explícito, a partir daí, começa a lhe ignorar. Por um longo tempo, você só a observa, ela ignora. Depois, do nada, ela quer alguma coisa. É aí que o sonho acaba. Do nada.
 
            Fica um dia sem articular palavra alguma, aflito de ser rejeitado. Noutro dia, pergunta a um dos amigos dela, se está solteira. Ele fala que sim, e isso é muito bom. Muito, muito bom. A partir daí, você é alimentado com fotos e número de telefone enviados pelos chegados da idealizada. Pela parte da manhã, nada acontece, não toma iniciativa. É tudo tão novo, nada disso havia antes acontecido na vida. Tudo que faz muito provavelmente é inédito, e o que teoricamente está para acontecer, é novo.
 
            Na parte da tarde, toma coragem e envia mensagens a ela. "Acredite, demandou um esforço imenso, enviar esta mensagem", uma das idéias que quer transmitir. Depois de falar um mundo de asneiras patéticas, pergunta se ela quer algo mais sério. Algum tipo de relação íntima, afetuosa. Alguma coisa inteiramente nova, para você. E muito boa.
 
            No outro dia, ela não diz nada, pela manhã. Somente de tarde, descobre que ela não quer perder a amizade e está gostando de outra pessoa. “Mas você é divertido, e inteligente demais”, ela diz. É aí que seu coração despedaça. A pressão é tanta que começa a espalhar a notícia, para desabafar. Uma espécie de terapia.
 
            Passando este dia de tortura, o outro não é muito diferente. A única e sutil diferença é que esta pessoa agora parece ignorá-lo. Fica pensando em implorar a ela para pelo menos uma permissão para olhá-la, mesmo que distante. “Eu namoro você, você não precisa me namorar”, estes são seus pensamentos. Mas só isso não basta. E não é inteiramente bom.
 
            Nesta mesma sexta-feira, só que à noite, decide desabafar. Desta vez com ela. Um momento que nasceu do casamento do Sr. Pressão da Silva com a Sra. Tristeza em Si. Um momento tão emo, que talvez sentirá vergonha, futuramente. A sua desculpa é a de que superdotados são hipersensíveis, e você é tímido demais que sente pena de si mesmo.

             Você fala o que sente, de um modo que visa não magoá-la. Ela fala o que sente, mas não são boas notícias. A "boa" notícia é que ficam amigos novamente. E você achou que seria uma terapia.

“Perdura a mazela,
Ali também
Perdura ela.”

            Até criou um haikai idiota para a situação. Até criou fragmentos de uma história que por si só já é fragmentada.
 
            É sábado, você usa, em seu computador, um programa de mensagens instantâneas que tem instalado desde "sei lá". Neste programa, um amigo seu fala que ainda há uma possibilidade do amor acontecer. A tal pessoa que você ama muito falou de você à tarde, e pode estar com um pouco de remorso. Esse seu amigo é confiável, você ouve-o, mesmo que sua mente fale o completo oposto. No entanto, há outra coisa que fala uma coisa completamente diferente, algo que lhe dá esperanças. Isso pode ser bom. Pelo menos tende.
 
            Divaga acordado, pelo resto do que sobra da tarde. Para depois, à noite, a escuridão entrar na dança. A escuridão, junta ao frio, é poética, para você.
 
            Domingo, fala com este seu amigo, pergunta o que mais sua amada falou acerca de sua pessoa, à tarde, ontem. Ele diz que não falou nada disso. Algo está errado. Tudo tende para o não-bom.
 
             Era mentira. Irônico, não? Balela. Alguém se passava por ele, para lhe machucar, e muito.
 
            Foi uma praga que disse, aquela que você dedurou para o diretor da escola, pois mirava laser em sua cara. Em seu olho esquerdo. Ele disse que iria dar um chute em sua cara, mas você riu. Você, sarcasticamente, cobrava a tal sola-no-nariz. Nada aconteceu. Águas passadas.
 
            Acontece que acabou de dar um chute em sua cara. Acontece que seu coração se esfarelou.
 
           Nesse momento de instabilidade, seus pais entram correndo em seu quarto e pedem para desligar tudo. Evento completamente aleatório. Há algo imensamente errado em suas expressões. Disparou o alarme., um ladrão? Após breves investigações, não passou de um susto. Mas este grande sustinho foi o empurrão que faltava para cair no abismo da insanidade. Você estava até preparado para pegar uma faca de cortar carne, que descobriu quando lavava a louça. Dias atrás. Bem comprida, reluzente e afiada. Bonita.
 
            Quão irônico isto pode ficar? Não é engraçado como o mundo opera? Não é engraçado como a vida lhe rói por dentro?
 
            Já dizia seu outro amigo: “A arte é insana!”. Isso tudo não é simplesmente cruel? Sempre soube que teve uma tendência para a loucura, mas não sabia que a linha era tão tênue. Isso é bom?
 
            Você devia acreditar mais em horóscopos. Devia acreditar mais em sonhos, em seus significados. Devia acreditar mais em sua mente, e o modo racional de ser. O carma existe. Pelo menos tende a existir.

             Este conto de fadas não teve um final feliz. Não teve mocinho e mocinha "felizes para sempre". Final excepcional para um indivíduo excepcional. Que ironia!

             Enquanto isso, na sala da injustiça, há uma suruba de trogloditas. Alimentando a superficialidade do mundo. Enquanto isso... Há um vazio cheio de lamúrias. Um buraco, vácuo.

            Não se espante, amor, quando ver um litro ou outro de sangue pelo chão...
            Não se impressione, quando me ver pintado de vermelho...
            Não ria, amor, de minha arte...
            Não chore, amor, por minhas ações...
            Não lamente, pela praga do laser... 
            Nem chore pelos buracos novos dele...
            Não duvide quando digo que não sentirei remorso...
            Não duvide também de um fabricante, que diz que seu produto corta muito mais que carne...
            Relaxe, amor, ainda sou humano...
            Amor, eu amo você... Amor, você é meu amor... Oi, amor! Amoreco!

            Que piada, não?

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