terça-feira, 27 de julho de 2010

Cremado

Como projétil
Secante à alma.
Choque negro,
Tangencia calma.

Tão rápido.
Cadê reação.
Nem chora coração,
Dormem lágrimas.

Tenta lamentar,
Enunciar,
Trovejar
Coisa humana.

Nada.

Disparo rápido
Que ataca
Não dói,
Marca.

“Olá bala!
Já vai,
Dona bala?”

Pára e pensa.
Tu não és
O que pensa.

Pensa mais.
Procura falta
Que te falta.

“Passado!
Aonde tem
Passado?”

Pássaros vigia,
Segue rotas.
Quem sabe
Dona nostalgia
Bata na porta.

Paquera céu
Conversa com laranja 
Do crepúsculo.

Pergunta como é
Ficar sufocado,
Sentir-se minúsculo.

Noite glacial,
Horas atrás,
Lia jornal:
Mataram rapaz.

Tiros na nuca,
Pedradas no rosto.
Sofreu como nunca,
Pobre moço.

Vinte e tantos anos,
Engenheiro civil.
André Juliano,
Há pouco partiu.

Amigo raro,
Ex-amigo raro.
Três ou quatro
Anos de laço.

Ex-humano,
Agora pó.

Tu,
Ex-humano,
Agora pó.

Segura tua vida,
Ex-vida cremada.
Não deixa caída.
Não deixa jogada.

Em palmo,
Firme estará,
O que te fez oco.
Então com sopro
Não voará.

Como pássaros
Desenhando vida
Em céu azul, laranja,
Além mar,
Para em instante
Jamais voltar.

Não aguardava
Cruel estocada
Do destino.
“O que há
Comigo,
De tão errado,
Ardido?”

Projétil rápido
Costuma marcar.

Que dizer
Da labareda
A esfacelar
O que ser
Já foi?

Cremados...

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