quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ordem

Hoje de manhã o homem do sonho disse para eu não ir trabalhar. Depois do almoço ele disse para eu não ingerir qualquer comida comprada ou roubada recentemente em qualquer supermercado.
Amanhã este mesmo homem me disse para eu não deixar de assistir à televisão, às oito horas e um minuto da noite, no canal vinte e um. Um comunicado importante do governo seria transmitido ao vivo ao povo em todos os canais. Durante os comerciais do canal vinte e um passaria um frame horroroso, entre a propaganda do bebê que urina e do desenho falante.
Depois de amanhã, este homem disse que ligar a televisão em qualquer canal seria cilada. Na estação de rádio noventa e nove ponto dezessete todos, até o governo, ouviriam, às nove horas e dois minutos da noite, um grito agudo de clemência, um rabisco com voz.
Depois de depois de amanhã, o homem estalou os dedos e apontou o indicador para a porta da frente, dizendo que o homem do correio estaria armado e bateria na madeira da mesma maneira como é acostumado, porém estaria armado.
Amanhã deste dia, o homem disse para eu não sair de casa no período matutino a partir deste dia.
Amanhã deste dia, o homem disse que o futuro não existe.
Amanhã deste dia, o homem disse para eu não vestir nenhuma roupa e não sair de casa no período vespertino a partir deste dia. Preciso inspecionar a casa à procura de pragas caseiras e preciso preparar uma macarronada à bolonhesa.
Amanhã deste dia, o homem disse para eu sorrir. Preciso tirar meus dentes.
Amanhã deste dia, o homem disse para eu ligar para a minha ex-esposa e ameaçá-la de morte.
Amanhã deste dia, o homem disse para eu rir.
Amanhã deste dia, o homem disse para eu ignorar as vozes e fazer somente o que ele mandou, que é pegar o fórceps do sótão, das antiguidades do meu pai, e, sem roupas, sair da minha casa pela janela da frente e correr feito um grego. Preciso pular o muro e arrebentar a janela da entrada, subir as escadas e cuidar com os degraus, comer um excremento de rato do rodapé e fazer trabalho de parto na boca da minha ex-esposa de pijamas.
Amanhã deste dia, o homem disse que as pessoas vivem no passado. Outro homem martelou a mesa e disse que eu estava condenado a sofrer.
Amanhã deste dia, o homem não disse mais nada. Ele era barbado, cabeludo e magro.

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