domingo, 19 de janeiro de 2014

Inevitável



Acordei sem sono, mas com preguiça de levantar da cama. Logo eu me pergunto: qual é a vantagem em levantar da cama? E a segunda pergunta é: o que eu realmente quero dessa vida? Se as pessoas fossem realmente felizes sozinhas elas não procurariam um par para compartilhar a vida. Não desejariam estar ao lado de um companheiro para todos os dias. Eu não tive nenhum sonho essa noite, mas eu tenho um sonho desde sempre. E finalizo a seção de primeiras três perguntas diárias com: por que queremos compartilhar a vida com alguém?
                Eu não sei.
           Levanto de supetão. Caminho descalça. Escovo os dentes. Passo fio dental e corto a gengiva. Encaro a minha feição no espelho e tenho uma vontade inexplicável de rir. Esqueci de me espreguiçar, de tal modo que faço isto agora. Lambo o corte. Pasta de dente com ferrugem. Volto ao quarto. Tiro os pijamas. Encaro o meu corpo no espelho. Linda, perfeita, modelada. Calcinha de estrelas sorridentes. Nenhum sutiã. Ando desligada demais. Como sempre. E daí eu me espreguiço e lembro que eu deveria colocar um sutiã e uma roupa por cima, e é exatamente isso o que eu faço. Eu sei que eu sou magnética e demasiada boa.
            É inevitável pensar nele. A rotina não é demasiada presente para me trazer de volta ao meu corpo. Aliás, belo corpo. E eu sei que ele não me merece. Mas, por que eu insisto em um mesmo sonho?
                Eu não sei.
                Quarta pergunta do dia.
                É muita pergunta para pouca resposta.
              Eu costumava ser um anjo, mas mudei da água para o vinho. Por mais que isso pareça um milagre, não é muito agradável e não necessariamente bom. Mudei por alguém, que não por acaso não é eu. O que me alimenta é a auto-destruição, por algum motivo. Junto os cacos para depois quebrar tudo de volta, por falta de motivos. Como uma criança burra com mãos de alface que sempre derruba o seu brinquedo. Eu pago a minha felicidade com juros e parcelada, mas nunca chega. Enquanto isso eu esboço um sorriso no rosto. Sempre. E daí eu me pergunto: por que eu faço isso?
                Eu não sei.
                Estou sozinha em casa. Aonde todo mundo foi?
                Eu não sei.
        Embora eu seja inteligente, eu sou burra. Eu sei que se algo não dá certo de algum jeito, não adianta continuar a fazer as coisas do mesmo jeito de sempre. A vida é feita de decisões. Os indecisos nunca são felizes com o resultado das coisas, pois qualquer resposta que o mundo jogar nas suas caras não será aquela que eles esperavam. Porque eles não sabem o que querem.
                Quem dera fosse apenas esta ressaca que me deixasse mal.
  Coço a nuca. Pego o meu celular. Há algumas mensagens novas. Claro, sempre. Todos me desejam, mas desejo poucos. Um apenas. Ou, melhor colocando, eu desejo um enésimo de pessoa. Coço a nuca. A primeira mensagem é de alguém: quem é você? Sou fechada, ríspida, brava, machucada. Sou amigável, meiga, tolerante, invulnerável.
                Respondo: eu não sei.
             A segunda mensagem é de outro alguém: por que você vez aquilo com ele, menina? Ele te ama, você sabia disso?
                Respondo: eu não sei. Sim, sei que ele me ama.
                A terceira mensagem é do primeiro alguém: oi, tudo bem? Como você está?
                Respondo: oi, tudo bem, sim. Eu não sei.
             A quarta mensagem é dele, aquele sacana. Ontem eu fui para vê-lo mais uma vez. E foi exatamente isso o que aconteceu, eu apenas o vi. Ele com outras mulheres. Cada uma com um enésimo do total dele. Ele se compartilhando com todos. Isso é bom para todo mundo, menos para mim. Não vejo justiça nisso.
                 A quarta mensagem: desculpa por ontem, menina, de coração.
                 A quinta mensagem é dele: eu gosto de você, não me deixe.
                 A sexta mensagem é dele: sério mesmo, estou muito mal por ter feito aquilo que fiz.
              As pessoas só dão valor quando perdem. Eu sei disso, e é por isso que eu dou valor enquanto ainda tenho. Mas, se ninguém mais pensa da mesma maneira, onde está a vantagem em fazer o que eu faço? Até que ponto é vantajoso ser honesta? Até que ponto é vantajoso ser uma pessoa boa? Por que eu me questiono tanto?
             A sétima mensagem é do meu pai: onde está você, filha?? Não demore para chegar em casa. Papai te ama. Beijos.
              Onde será que ele está agora?
              A oitava mensagem é dele: estou bêbado agora, mas sei que errei ao te deixar de canto. Eu te ignorei, sou um idiota completo.
             Agora ele se sente mal. Ele simplesmente não se decide nunca. E o cara de pau vai me querer outro dia, como se nada tivesse acontecido entre nós. Odeio pessoas indecisas. Eu amo ele.
             A nona mensagem é da minha melhor amiga: eu te amo, amiga!! Uhuu, estou muito bêbada!! Hahaha eu achei um gato aqui pra mim, muito massa, você devia ver ele. Acho que vamos namora, se cuida, gata.
             A décima mensagem é dele: você gosta de mim?
            Sinceramente. Chega disso. Vou tomar as rédeas. Não quero mais ele, não me faz bem. Eu gosto dele, mas desse jeito não dá. A vida é uma grande merda se você quiser que seja. Caso contrário, é só uma merda. Eu não sou mulher de meia pessoa, nem de uma parcela de pessoa. Sou mulher de uma pessoa inteira.
             E a décima primeira mensagem é dele, também: eu te amo, menina.
             Respondo: eu também te amo, menino.
             Eu odeio gente indecisa. Eu me odeio.
Por que eu sempre faço a mesma coisa?
Sinceramente, eu não sei.
Mas, eu ainda estou viva.

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