sábado, 18 de janeiro de 2014

Inexplicável



– Oi, tudo bem? – eu digo.
– Oi, tudo! E você? – ela diz.
                E eu me apaixono pela mulher. Gostosa.
               E, agora, dando um rolê com ela pela cidade. Ela fala que quer sorvete. Eu pergunto se ela quer sorvete de bolas ou de paus. Ela fala que de bolas, porque de paus não é sorvete, daí é picoléte. Sim, ela disse “picoléte”. Comemos as bolas. Ela gostou e pede mais. Eu pago mais. Ela esfrega as contas na minha cara. Não sei se é um ato de afeto ou de outra coisa. Mas eu digo “tudo bem” e pago a conta. Eu não gosto de pagar contas, mas eu pago a conta. E ela não diz nada. Só come, se lambuza e come. Engorda.
                Um mês juntos, viva nós! Conseguimos! Ela faz dois bolos para nós. Comemos os bolos.
             Eu me ajoelho, em frente a uma exposição de carros antigos – ela gosta de carros antigos, enferrujados, portadores de tétano – e a peço em casamento com um anel de salgadinho. Ela recusa. Bosta.
                Eu me ajoelho, enquanto ela faz macarrão, na cozinha, desatolando a calcinha, e a peço em casamento com uma aliança de ouro farta. Ela me manda catar coquinho e eu deito no sofá, de braços cruzados. Bufando.
                Eu chuto a porra da porta, a porta da porra, com muita brutalidade e inconsequência, e me ajoelho na frente dela, que está sentada no vaso sanitário. Eu a peço em casamento com uma aliança de ouro e com um puta dum diamante bem foda bem ali pra todos os gatunos verem de longe sem binóculos. Ela aceita e se borra de alegria. Amém.
– Eu aceito. – eu digo, convicto.
– Eu aceito. – ela diz. Ela me ama, certeza. Eu acho.
– Ok. – diz o padre. E levo um susto quando ele fecha a bíblia.
Enfim, chegou o dia em que eu preciso falar uma coisa séria para ela. Meu amor, minha vida, minha privada entupida. Eu crio todas as coragens do mundo e digo que tenho dois pênis funcionais. Ela delira, desmaia na hora. Ó, meu amor, meu fedor, meu penico voador! Depois de um tempo, de uma meia hora, ela volta ao normal e pergunta se é verdade. Eu digo que não, que na realidade eu tenho nenhum pênis e, portanto, não podemos ter filhos nossos. Aliás, para completar o pacote, eu não tenho nem gônadas. Ou seja, não posso ter um filho. Mas, ela pode, a princípio. Ela chora. E ri. Porque sou eunuco. E daí eu faço um sexo oral nela e ela perde a força nas pernas e cai no chão ao tentar se levantar para ir ao banheiro. E eu rio. Ela me manda catar coquinhos e fecho a cara. Rosno.
– Certeza de que quer fazer isso, meu doce? – eu pergunto.
– Sim, meu salgado. – ela responde.
– Tudo bem, gente. – diz o médico, colocando luvas de látex.
Ele, o doutor, entra lá num lugar. Ela, a minha querida esposa, também. O médico ri alto lá de dentro. A minha queridinha esposinha também. Tenho certeza de que ela falou que sou um eunuco desgraçado. Tomara que essa desgraçada pague caro por isso. Vadia.
Ela vomita muito no banheiro. Em casa.
Ela vomita muito no sofá. E se caga. Em casa.
Ela vomita na minha boca. Na. Minha. Boca. E caga no meu queixo enquanto faço uma delícia de um sexo oral nela. Merda.
O doutor diz que deu merda na inseminação artificial de alguns dias atrás. Na verdade, o cara acabou colocando plutônio nela. Ele se confundiu. Ela vai morrer dentro de alguns dias. Vish.
– Buceta! – eu grito.
– Caralho! – ela berra.
– Foi mal. – diz o doutor.
E morreu.
Eu choro muito no velório.
– Poxa, que pena que ela morreu já. Tudo bem com você? – uma mulher aleatória diz.
– Pois é, cara. Não. – eu digo.
E me apaixono pela mulher. Inexplicável.
– Eu não tenho pau. – eu digo, logo em seguida.
– Poxa, que pena. – ela diz, e vai embora, logo em seguida.
Gostosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário