terça-feira, 29 de julho de 2014

Intermitente amada



Chão some do nada;
De repente dá pancada:
Paixão desgraçada.

Re-volta à vida

Mais quero é compartilhar, contigo,
As minhas descobertas e conquistas,
E me redescobrir ao seu abrigo.

Amaria acompanhar, com afeto,
Como um amigo, amante e confidente,
O caminho que optar como correto.

Viver passado, futuro e presente.

Impossível quando se está ausente...

sábado, 26 de julho de 2014

Pés no chão



Os sentimentos viraram razões
E o abrigo construído é ruína:
Museu das respondidas emoções,
Evidências de ser capaz de amar.

Não existem mais razões para sentir,
Conto de fadas de final real.
Vi nossa chama de paixão esvair,
São faíscas à combustão de ira.



Em meio a tantas mudanças, no fim,
Você transformou a minha vida:
Você foi outra vida para mim.

Sozinho eu reconto a mim essa estória
Que tem tudo de bom e de ruim.
O que era verdade agora é mentira.

Vulnerável



Eu caminho pela rua que sempre caminho. Não há nada de diferente, só sigo a minha rotina. É o que me mantém focado em um objetivo. Muitas coisas inúteis para pensar, mas eu continuo repetindo o que sempre repito para a minha própria saúde. Sempre seguir esse caminho, eu não tenho nada a reclamar dessa mesmice, pois é cômoda. Espero que eu não tenha tempo de sobra para pensar em coisas extras.
                O pessoal do cotidiano passa por mim: idosos, meia-idade, crianças acompanhadas por idosos e pela meia-idade, crianças sozinhas... Isso é novidade. Alguém chama alguém pra cuidar dessas crianças aí, por obséquio? Obrigado, gente, vocês são uns anjos.
                Claro, ninguém veio socorrer as crianças. Pelo menos elas estavam com algodão-doce com a máscara do homem-aranha. Esse homem-aranha é espetacular. Essas crianças são sensacionais, adoro elas.
                Na verdade, eu não tenho paciência com crianças. A infância é uma embriaguez, pouco se lembra dela e pouco se tinha de lucidez.
                Na verdade mesmo, eu não tenho paciência com nenhuma pessoa que venha me atazanar a vida, ou tentar apaziguar os meus demônios. Deixem-me em paz, por obséquio, obrigado. Agora, foda-se você.
E as minhas pernas já estão doendo. Eu sempre ando a pé da escola até a minha casa. Porque sim. Eu não estou reclamando disso. É um fato da minha bela vida, e isso foi sarcasmo.
E eu ouço um choro que fica mais e mais presente. A cada passo que eu dou, é uma batida que o meu coração erra do seu compasso natural. É cortante, é triste. Não sei se vem da esquerda ou da direita. Não sei se já passei ou estou passando pelo local do choro.
É um animal, mas a sua dor é excruciante.
É um cachorro, e eu acabei de encontrá-lo, lavado em sangue, rasgado na coxa. Eu não sei exatamente o que aconteceu com ele, mas eu sinto a sua dor de alguma maneira. E, por algum motivo, sinto mais por ele que pelos meus demais semelhantes. Eu estou completamente sem ação. Embasbacado, boquiaberto, reticente, apavorado. Justamente nesse instante delicado nenhuma alma penada aparece para o socorro.
Cabe a mim, incompetente, salvar essa pobre vida deste pobre ser. Justo eu que não sei de nada sobre a vida e tampouco sobre primeiros socorros. Ou segundos socorros, ou últimos socorros. Não sei muitas coisas práticas e aplicáveis, melhor dizendo, e essas coisas me fazem falta agora, neste momento frágil. O evento foi inesperado e intenso.
Quase que eu choro junto com o cachorro, que não para de chorar.
Na verdade, eu acabo chorando junto com ele, por algum motivo, o que intensifica ainda mais o seu choro doloroso que só a mim atinge.
Os transeuntes passam batido sem o mínimo de interesse. Talvez ninguém queira se envolver, talvez ninguém saiba como agir, talvez ninguém sinta algo por esta cena. A única certeza que eu tenho é que eu quero, a todos os custos, ajudar o animal inocente. E, por causa disso, arranjo forças e inspirações de cantos obscuros do meu interior e rasgo a minha camiseta. A minha mãe gastou muito dinheiro nela, eu sei disso, mas o meu bem-estar não vale mais que o deste filhote. Ele é marrom, ele é pequeno, as suas orelhas são dobradas, o seu rabo é dobrado, as suas unhas são longas, o seu cheiro é forte, o seu som é agudo e está todo manchado de humanidade.
Eu me ajoelho na grama e faço um torniquete simples. Abraço o bichinho. Eu não quero ouvir mais nenhum pranto, eu não quero saber de mais nenhum sofrimento, eu não estou confortável com a sua situação. Eu não sei o que fazer. Eu não quero que ele morra.
– Calma, amiguinho, vai dar tudo certo. – sussurro no seu ouvido, acariciando a sua cabeça. – Eu estou aqui para te ajudar, não se preocupe, tudo vai dar certo.
– Eu não quero ouvir nenhum grito, passe tudo o que você tem de valioso. – diz uma lâmina no meu pescoço. – Celular, carteira, relógio, tênis e o que você tiver nessa mochila.
O cachorro está tremendo. Os seus olhos estão fechados, a sua voz está esvaindo, as suas patas estão fracas. Lágrimas escorrem dos meus olhos, os meus braços perdem força, a minha voz entala na garganta. Os meus bolsos são apalpados, a minha mochila é violada, o meu pulso é tocado.
O cachorro não se move, a lâmina desencostou do meu pescoço, o meu coração está partido.
– Desculpe-me, eu fiz o que pude para ajudar. – suspiro.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Pássaros na gaiola



Eu nunca tinha vindo nesse lugar, sequer sabia que existia. Por enquanto está interessante e, no mínimo, diferente. É ótimo sair da rotina e achar coisas novas para fazer, para ver, para apreciar. A subida é suavemente íngreme. Cansa um pouco, mas eu quero ver até onde chego. Faz um tempo considerável que estou caminhando no desconhecido, mas não tenho nada a reclamar.
                Fugi, por ora, da minha cidade, se é que posso chamá-la de minha. Escapei momentaneamente da sociedade opressora e oportunista, onde não se pode mais ser humano e demonstrar sentimentos. Devemos ser fortes e guardar tudo para nós e desabafar somente conosco. Qualquer demonstração da suposta fraqueza é margem para os nossos semelhantes se aproveitarem da nossa condição e nos usarem a seu favor. Poder é um tipo sujo de felicidade. Somos emoções, eles nos cobram o impossível. Exercer a humanidade é um tabu, é uma vergonha. Nós pensamos que estamos livres, mas estamos presos em um grande sistema emocional de amor e ódio.
Somos bombardeados por regras de vivência. Produção em série de um manual da vida em todas as cabeças. O único refúgio seguro é a arte. A mágica é que emoções são expressas e transmitidas a nós por meio da arte, sem realmente nos envolver na sua proposta. Ao contrário de quaisquer outras tentativas de fuga, as drogas e as bebidas, que nos enaltecem a um estado superior otimista – uma mentira –, seguido por um choque com a realidade, uma crise existencial. O ciclo tende a se repetir, se agravando mais. Até que somos forçados a mudar o nosso estilo de vida e sermos cada vez mais superficiais. Em busca de prazeres sem valor. Assim eles nos tiram a liberdade e o dinheiro.
O único refúgio seguro é a arte.
O chão é de terra. Aliás, o chão é de barro. A minha calça cara está toda suja. Há meia hora o marrom passou da barra e avançou até o joelho. Há muitas árvores, não muito bonitas. Para alguém talvez sejam. Talvez, no momento em que nasci, se eu pudesse ver, acharia extremamente elegantes as ditas árvores. Não tenho certeza se estou mais próximo do fim ou do início deste caminho pelo qual optei.
A vida é uma sucessão de decepções, porque desejamos incessantemente. Vivemos para desejar, não nos contentamos com o que temos. As decepções nos levam aos refúgios que nos oferecem, que deveriam nos trazer liberdade, todavia nos prendem ainda mais no seu sistema. Envolvemo-nos cada vez mais, até que ficamos completamente cegos e devotos. Desejos são perigosos.
Finalmente, chego ao que me parece ser o fim. Um espaço relativamente vazio, um pedaço de livre-arbítrio. Enfim sozinho, vivendo para mim. Daqui consigo ver a cidade. Fachada. Todos os seus carros e escravos se deslocando. Por quê?
Eu me sento – termino de me sujar – e observo a cidade e a sociedade. Longe de tudo e de todos. Serenidade, tranquilidade, paz, calma, paciência, quietude.
Posso considerar toda essa epifania como um passo da minha evolução. A evolução pessoal é a coisa mais linda. Tenho o dom de afastar as pessoas que amo, mas até que ponto eu dependo delas?
Eu me conheço? Sou abstrato.
Busco a verdadeira liberdade. Essa é a minha felicidade. Existem dois caminhos a seguir: a vida ou a morte. Em cada ação eu opto por viver, desde uma simples tragada de ar a um simples passo adiante ou um recuo. Eu poderia me projetar violentamente para baixo, mas não foi o que escolhi para mim.
Quero viver livre da opressão e da pressão dos meus desejos.
A verdade é que eu já estou preso no meu desejo de ser livre.
Bom, há também o caminho da insanidade, totalmente contramão.
Eu só observo o pôr-do-sol, enquanto posso.
               

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Passado presente



Toques no passado longínquo, morto:
Viram ao avesso, viram o avesso;
Tocam no apreço, renovam o seu preço;
Relembram aquilo que eu nunca esqueço.

Ressuscitam o ser anterior;
Reviram esse estrago interior;
Renovam aquele passado amor
Com este novo toque de amargor.

O coração se perde no caminho
Da tortuosa e torturante viagem
E agradece por todo o sofrimento.

Mistura de saudade e bobagem:
A droga do sentimento agridoce
Que é a porcaria da nostalgia.